domingo, 5 de julho de 2009

Ser como não se quer ser. Eis a questão.

Todos os dias
antes de dormir
não tenho mais o tempo que passou
mas tenho muito tempo.
Renato Russo.


Todos os dias antes de dormir tenho pensado em como não me tornar isso que sou agora, que sempre detestei e temi. Como se o que penso agora, estivesse pensando no passado e, com o resultado em mãos do meu destino infeliz, pudesse, com a força do pensamento, me desfazer todo e refazer-me depois, com a novidade.

Eu era tão novo, tão mais culto e feliz. Meu coração ardia e eu sentia vontade de falar com desconhecidos. Eu sentia vontade de sair correndo e, não raras vezes, assim o fiz.
Falei muitas besteiras para mulheres comprometidas e passei fome, também. Assisti a tantos filmes, no cinema, sozinho. E me apaixonava pelas damas e qualquer filme europeu de segunda era um novo clássico que eu idolatrava sozinho.

Sabia ter descontrole - isso é uma arte.

Mas agora - na verdade, de tempo atrás - sinto que morri e esqueceram de avisar. Sinto-me velho, com saúde fraca, sem planos e solto num vento que não sei de onde vem e nem para onde vai. Estou em crise profunda comigo mesmo. Uma crise entre várias partes que optam pelo silêncio quando a vontade primeva é gritar. Coitadas, silenciando, afundam nos seus sofás gigantes de salas pouco iluminadas. E fumam. São assim as partes de mim em crise.

Eu aprendi, desde pequeno, que é para ter medo da quietude e da bonança.