quarta-feira, 30 de março de 2011

Ás de Ouros

Eu não escrevo poesias.

Isto não é e nunca será poesia. Não quero que seja e não será. Simples.

Dito isto, quero que saiba: escrevo-te agora cartas. Cartas mentais, que escrevo, leio e corrijo, aos poucos, durante todo o dia.

Algumas cartas, saiba, te entrego, num envelope fechado, me utilizando de beijozenvelopes. E você nem lê.

Outras cartas, saiba, eu escondo numa gaveta azul-memória - e não pretendo te entregar tão cedo. Sussuro: elas me entregariam!

Eu te escrevi uma carta, dia desses, dizendo que não queria te amar.

Ora, que tolice! Como é que eu não vou te amar, se te vendo eu reescrevo minha história - e as cartas que tinha já estão obsoletas...

Veja, perdoe minhas cartas assim. Eu não tenho compromisso literário em te amar. Meu compromisso é com a liturgia de te querer tanto e escrever cartas e mais cartas, todos os dias, sem te entregar.

Muito bem, eu confesso: eu me escondo nestas cartas e, me escondendo, me tranco também, nos envelopes - nos beijozenvelopes.

É um exercício, pequena, de literatura grande.

Eu gosto de amar, mas não quero. Eu não quero mais amar, pequena. Entenda!

Vou escrever isso numa carta e não vou te entregar, claro! É por que toda carta precisa de um envelope.

Um beijenvelopado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Camas

A cama, onde agora resido, é meu paraíso.

Ontem, bem antes de ontem, quando você estava aqui, eu colhia em seus olhos um amor-sem-fim.

Hoje, restam migalhas de um nada.

Não pense que não vi seu rosto ruborescer dentro do carro, mesmo no escuro do outro lado da rua.

Não pense que ontem eu não vi que me viu e ruboresceu denovo.

Lembre que ontem, bem antes de ontem, você estava aqui, nua, e seu olhar corria meu corpo envenenando-o.

E eu morria um pouco cada vez que sentia que já não te amava.

Lamento calar isso agora. Calar que já sabia que te não amava. Que te não colhia suspiros. Que te.

Mas hoje a cama me disse, quando acordei:

- Vá, não há de que! Eu sei que, aquelas que você amou, jamais serão amadas tanto quanto. Elas sabem, também, por que jamais serão olhadas como você as olhou! Vá, não há de que!

Oh, cama! Doce cama! Você está ficando grande demais nessa minha insônia tanta...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Todo Amor é Único em Si Só e pela Delicadeza

eu acho que também amei você. não estou dizendo que não ame agora, entenda.

por que acontece que o amor é o que a gente sente, como a gente sente, em nossa própria delicadeza, loucura e pessoalidade. e não há nada no mundo que me faça pensar que o amor deve ser o que se vê nos romances, nas telas, nos divãs - por que aqueles amores são amores de outros: os meus eu choro sozinho.

o amor que se viveu foi mágico, intenso, prazeroso, romântico e brincalhão.

foi uma cena inesquecível de um filme que eu quero recorrer sempre antes de dormir - é pra ver se, sonhando, revivo os seus beijos e os seus carinhos.

eu fiquei com medo quando você me disse que achava que me amava.
mas agora não.
acho que o amor é assim, a gente sabe o que sente, quando sente... e tudo o mais, mesmo sem saber o porquê. e foi amor - sem sombra de dúvidas foi amor.

foi um amor nosso, que a gente viu em cada sorriso, abraço, beijo, mordida e leveza.

hoje temos a distância, assim, nessa destreza leve de uma loucura.

mas não é a distância, percebida nesse implacável momento de se desejar e não se ter, que vai fazer com que eu esqueça esse amor que hoje eu sinto, ainda, tênue, quando encosto meu rosto pra dormir.