terça-feira, 31 de maio de 2011

Do Imaginar

Vou dizer-te já, agora, que não sei a diferença entre sonhar e imaginar. Mas prefiro a segunda opção.


Eu fico pensando se é demais imaginar te ver chegando do mercado num vestido branco, com uma sacolinha nas mãos e um almoço no rosto. E se tu viesses caminhando pela grama ralinha, que cortamos ainda ontem, antes de nos molharmos com a mangueira?

Chegaste tirando as sandálias e, ao olhar seus pés, relembro por que me apaixonei por cada detalhe do sorriso todo que é pra mim seu corpo.

Eu paro e você mabraça. Diz com um beijo no pescoço que meu cheiro é bom. Vamos ao pomar de mãos dadas? Sim, a água esquenta e o vinho gela. Era um domingo este hoje? Sim, e os convidados ainda não chegaram - dá tempo de você me mostrar seu beijo novo. Você sempre tem um beijo novo, na boca e no olhar.

Olha amor, nossa horta, que bonita. Será que Beatriz vai gostar? Você a ensina andar de bicicleta e depois eu a ensino a plantar. A viver com as mãos na terra ela vai aprender o tenro perfume da vida. Era assim mesmo que você queria ser feliz um dia? Eu não sei, amor, eu não sei.

Pequena, eu te disse para não sair assim ao pomar com os pés descalços. Agora vê! Lá dentro de casa há um cheiro eterno de chá, a nossa sala está limpa, você está linda e eu ainda nem me vesti. O vinho gelou? Ah, quantas preocupações! Deixa pra lá, mabraça!?

Ontem, no chuveiro, eu quis dizer-te do meu amor. Um amor que pulsava (e ainda pulsa). Mas você me mostrou um beijo novo, ah!, e eu já não lembro de quase nada. Mas veja, eu não desisti de dizer-te que eu te amo um sonho. Que eu te amo sonhando grande. Não era bem assim que eu queria te dizer isso, sabe, mas é que a pressa agora também pulsa.

Olha, as gentes estão chegando... Quanta gente bonita! E trazem os meninos. Vamos ter o nosso?

Depois que todos forem embora, a gente sobe. Eu faço uma massagem no seu pé. Eu prometo. Depois eu arranco o teu vestido branquinho com a boca - e por algum bom tempo nos despedimos do mundo rumo àquele que é só nosso.

Agora vem, me dá a mão. Vamos lá, já batem à porta, mas, espera, vem cá... eu tenho um beijo novo.

sábado, 21 de maio de 2011

Uma a essas

Minha pequena senhora
Se soubesses o que é dormir de tanto chorar
e acordar sobre um papel molhado de carta escrita
com dores ainda muitas em tinta fresca
(reticências)

saberia agora do meu desespero e do porquê tanto choro (ponto)
E ainda acho pouco.

Eu só me importo agora em não fazer-te mal.

Mas vivo com a incerteza se te fiz bem.

Acho que de alguma forma -  não é possível que seja diferente - você sentiu que te amei. 

Mas se diferente for, me despeço desse altar agora.

Minhas folhas de papel molhado me esperam.


Um dia eu ainda vou viver.