quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Amenidades

São agora respeitáveis altas horas da noite e me espanto. Me espanto com a espetacularidade das amenidades.

Que genial é o dançar da poeira das mãos que se batem, lançando partículas que se vão ao céu e por fim ao espaço sideral. Que espetáculo reproduzem estes átomos no ar estelar, e brilham pela luz do sol, ao outro lado do planeta que talvez já será dia.

Espanto com o tilintar das patas da formiga que trabalhará amanhã, neste seco chão do cerrado seco.
E considero, ainda, a gotícula d'água que faz esta mesma formiga sorrir, se lhe cruzar os caminhos cheios de grama. É todo um espasmo em despaçar tudo o que contém algo.

São beija-flores na nossa próxima estada.
E virão atrás de doces e caramelos, tudo em flores, e só descansarão se lamberem os lábios, ah, que doce era essa bromélia acácia amêndoa cruz dor verão.
O beija-flor permeia e muda as cores e semeia, mesmo sem querer, novas flores. E até o pólen muda o colorido amarelo-doce que lhe é intrinseco. A árvore seca e resseca, versa e traduz as estações todas, como se pintasse-as em fotos de dentro pra fora.
Mas ninguém muda o azul do céu. Ninguém nem nada. Não é?

E num gabinete de um escritório repartição forum, um senhor de terno e gravata empreende a manufaturar uma recorte qualquer numa folha branca, sem nada escrito.

O senhor sorri e pode-se ver que, atrás dos bigodes, lhe restam bons dentes brancos. Despreocupa com as verbas ou com as notícias, recorta uma lua, cuidadosamente, com a tesoura antiga de metal.
Com a folha recortada nada mais lhe atribui a pensar resultados. Embola-a na palma da mão e lhe arremessa ao lixo do outro lado da sala, despreocupado em não ter corrigido o trajeto.

O mundo palpita e balbucia, mas nada preocupa a senhorita de saias a passar batom frente ao espelho.

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